O filme mostra que a humanidade se vê numa enorme ausência de valores, mas ao mesmo tempo, no meio de uma desconcertante abundância de possibilidades. É o que o filósofo Friedrich Nietzsche chama de "advento do niilismo" onde "o individuo, em tempos como este, ousa individualizar-se". As possibilidades deste mundo são ao mesmo tempo gloriosas e deploráveis. “Os nossos instintos podem agora voltar atrás em todas as direcções; nós próprios somos uma espécie de caos”. Este excerto retirado do livro “Além do bem e do mal” do próprio Nietzsche parece traduzir o que se passa na mente de Tyler durante todo o filme. Nietzsche observa ainda que há uma grande quantidade de pessoas cuja solução para o caos da vida moderna é tentar deixar de viver: para eles “tornar-se medíocre é a única moralidade que faz sentido”. Baseado nessa observação percebe-se que Tyler, para não se tornar “medíocre”, tomou uma postura diferente, ele procurou no Clube da Luta uma solução distinta.
A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a sociedade odiada por Tyler no filme porque, de acordo com Webber, as grandes massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses “homens-massa” não têm o direito de governar nada nem ninguém, nem a si mesmos. Eles precisariam de uma consciencialização, também proposta no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não têm ego, nem “id”, as suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; as suas ideias, as suas necessidades e até seus dramas “não são deles”; as suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exactamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer. “O povo auto-realiza-se no seu conforto; encontra a sua alma nos seus automóveis, nas suas casas, nas suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o director faz, muito bem representada no filme.
"Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos a aprender isso". Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair no real", e perceber que a sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.
"A propaganda faz-nos correr atrás de coisas e trabalhos que odiamos, para acabar por comprar o que não precisamos". São essas e outras características que se devem ver em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais esquisito e engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um personagem alienado.
As vezes sentimo-nos aprisionados e reprimidos em prol de condições favoráveis na sociedade. Constantemente lançamo-nos contra os nossos desejos e instintos básicos. Parece que colocamos todos os nossos desejos em lugares escondidos de nossa alma e tentamos agir conforme as nossas regras sociais. Somos mesmo indivíduos capazes de escolher e viver plenamente do nosso modo? Sem a interferência de valores e produtos impostos pela sociedade?
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O filme constitui uma boa introdução ao problema filosófico da natureza do conhecimento, na medida em que nem tudo o que John Nash conhece e acredita que faz é real. Muitos acontecimentos e pessoas são criações da sua mente, não saber o que é real ou fantasia provoca estranheza e dor. O conflito com a sua própria mente leva-o a descobrir e a aceitar que algumas das pessoas queridas que o acompanhavam há longo tempo eram apenas produto das suas alucinações.
Ao abandonar a medicação John Nash recorreu à terapia cognitiva. Inicia, então, um processo de confrontação com as suas próprias fantasias para conseguir distinguir o delírio da realidade.
O realizador faz com que o espectador, durante grande parte do filme, também não saiba, exactamente, o que é real e o que é fantasia do protagonista.
A partir do que foi referido podem surgir questões do tipo:
- O sujeito conhece uma realidade objectiva, distinta e separada dele?
- Ou conhecerá apenas representações por ele construídas do real?
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Ou entao entra em contacto com a docente da Disciplina de Psicologia do Desenvolvimento, Claudia Dias : cdias@fade.up.pt